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Ativos-refúgio, o que são e como são utilizados pelo mercado?

Um ativo-refúgio tende a manter ou aumentar o seu valor em períodos de elevada incerteza, como: crises económicas ou volatilidade nos mercados.

Estes ativos são considerados como “portos seguros” — instrumentos onde os investidores procuram preservar capital quando os ativos de risco (como ações) se tornam voláteis.

Características principais de um ativo-refúgio

Baixo risco de perda permanente de capital: São ativos associados a emitentes de elevada credibilidade (como governos sólidos) ou a bens com valor intrínseco (como o ouro).

Elevada liquidez: Podem ser rapidamente convertidos em dinheiro, mesmo durante períodos de stress financeiro.

Preservação de valor: Mantêm o poder de compra no tempo, servindo como reserva de valor contra inflação ou desvalorização cambial.

Correlação negativa com ativos de risco: Tipicamente sobem quando ações e crédito corporativo cedem — funcionando como um “hedge natural” em tempos de crise.

Quais são os principais ativos-refúgio?

Ouro (via instrumentos financeiros): Valor intrínseco e escasso, tradicionalmente sobe em crises financeiras ou geopolíticas.

Dólar norte-americano e Treasuries dos EUA: Moeda de reserva global e títulos considerados livres de risco.

Franco suíço (CHF) e iene japonês (JPY): Moedas de economias estáveis e politicamente neutras.

Dívida soberana de alta qualidade: Obrigações de países como Alemanha, EUA e Suíça.

Como os ativos-refúgio são utilizados nos mercados financeiros?

Proteção (Hedging)  

Os gestores usam ativos refúgio para diversificar e reduzir o risco global das carteiras.

Por exemplo: numa carteira de 60/40 (ações/obrigações), as obrigações soberanas cumprem o papel de atenuar perdas em momentos de volatilidade nos mercados acionistas.

Ajuste tático da alocação  

Durante períodos de instabilidade, os investidores realocam capital de ativos de risco (ações, crédito corporativo, emergentes) para ativos de refúgio. Esta “rotação defensiva” reduz a volatilidade e protege retornos.

Sentimento do mercado  

O fluxo para ativo refúgio serve como barómetro do sentimento dos investidores/analistas. Por exemplo, uma forte valorização do ouro ou do dólar pode indicar que os investidores estão em modo aversão ao risco (risk-off).

Quando são procurados pelos investidores?

Os ativos-refúgio são procurados em períodos de:

  • Crises financeiras e recessões: na crise de 2008 verificou-se uma forte procura do dólar e do ouro, com os investidores a afastarem-se de ações e crédito de risco;
  • Incerteza geopolítica: guerras, conflitos comerciais ou tensões geopolíticas, como a invasão da Ucrânia em 2022 geraram procura por ouro e francos suíços;
  • Inflação elevada ou políticas monetárias instáveis: quando a inflação sobe ou há receio de desvalorização cambial, o ouro e outros ativos ganham destaque.
  • Crises de liquidez ou de confiança nos mercados: quando há dúvidas sobre a estabilidade do sistema financeiro, os investidores procuram segurança em ativos líquidos e de baixo risco.

 

Exemplos práticos da evolução dos principais ativos-refúgio nas recentes crises

Ativo RefúgioCrise de 2008 (Crise Financeira Global)Crise de 2020 (Pandemia COVID-19)Crise de 2022 (Ucrânia + Inflação)Comentários Relevantes
Ouro (Gold)🔺 Subiu ~25% entre 2008–2011🔺 Subiu ~35% entre março–agosto 2020🔺 Atingiu máximos históricos > $ 2.400/oz em 2024Refúgio clássico em períodos de incerteza e inflação; valorização reforçada quando as taxas reais são negativas.
Dólar Americano (USD)🔺 Apreciou fortemente vs. euro e moedas emergentes🔺 Forte valorização inicial com procura por liquidez🔺 Atingiu máximos de 20 anos em 2022É o principal ativo de liquidez global; ganha valor em fases de flight to safety.
Treasuries (Títulos do Tesouro dos EUA)🔺 Fortes ganhos (queda nas yields) com cortes agressivos da Fed🔺 Yields caíram para mínimos históricos (~0,5%)⚠️ Misto: yields subiram com a inflação, mas continuaram a ser porto seguro em choques financeirosAtivo refúgio clássico; sensível às políticas monetárias.
Franco Suíço (CHF)🔺 Ganhou valor face ao euro e ao dólar🔺 Subiu ligeiramente no início da pandemia🔺 Continuou valorizado, mas controlado pelo BNSEstável, com apoio de política monetária conservadora e reputação de neutralidade.
Iene Japonês (JPY)🔺 Forte valorização🔺 Subida temporária em 2020⚠️Enfraqueceu em 2022 com política ultra expansiva do BoJAinda visto como refúgio, mas a eficácia reduziu devido à política monetária japonesa.
Dívida Alemã (Bunds)🔺 Yields negativas a partir de 2010🔺 Procurada como refúgio europeu⚠️Perdeu atratividade com subida de taxas do BCEFunciona como alternativa europeia aos Treasuries.

Fontes: World Gold Council, BIS, IMF, FRED, Financial Times, The Guardian, ECB entre outros.

 

Além dos ativos acima mencionados há investidores que já consideram a Bitcoin ou commodities energéticas como refúgio, no entanto, estes ativos não devem ser classificados como ativos-refúgio porque não preservam valor em crises, são altamente voláteis e correlacionados com ativos de risco e carecem de estabilidade institucional e previsibilidade.

👉 Conclusão: Um ativo-refúgio é, essencialmente, um instrumento de preservação de capital.

Nos mercados financeiros é usado para diversificação e gestão de risco, servindo também como indicador de confiança e de sentimento global. É mais procurado em momentos de stress, quando os investidores trocam rentabilidade por segurança.